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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Os Pais da Capoeira

MESTRE BIMBA:
Manuel dos Reis Machado nasceu em 23 de novembro de 1889, filho de Maria Martinha do Bonfim e Luiz Cândido Machado, no bairro do Engenho Velho, em Salvador, Bahia. Seu apelido, que viria a ser o nome pelo qual se tornou legendário, nasceu de uma aposta entre sua mãe e sua parteira; a primeira dizia que a criança seria menina, e a segunda, menino. Ao término do parto, a parteira exclamou "é um menino, olha só a 'bimba'". "Bimba", na gíria local significa pênis.

Mestre Bimba começou a aprender capoeira aos 12 anos, com um capitão da Companhia Baiana de Navegação (que ficava na Estrada das Boiadas - atual bairro da Liberdade, em Salvador) chamado Bentinho, embora, naqueles dias, o jogo ainda era perseguido pelas autoridades. Ele seria, posteriormente, conhecido como um dos legendários pais da capoeira, sendo o outro Mestre Pastinha, pai da Capoeira Angola.

Aos 18 anos, Bimba começou a achar que a capoeira estava perdendo sua eficiência como arte marcial e instrumento de resistência, tornando-se uma mera atividade folclórica, reduzida a nove movimentos. Começou, então, a resgatar movimentos da Capoeira original, adicionando movimentos de outra luta africana, denominada "Batuque" (um tipo de arte marcial um tanto violento, caracterizado pelas quedas, que aprendera com seu pai, campeão da modalidade), além de introduzir movimentos de sua própria criação. Começava o desenvolvimentoda Capoeira Regional.

Em 9 de julho de 1937, Mestre Bimba obteve da Secretaria da Educação, Saúde e Assistência Pública (órgão competente à época) o certificado de registro de sua academia, o Centro de Cultura Física e Luta Regional, no Engenho de Brotas, em Salvador. Devido à grande discriminação que ainda sofria esta arte por parte da sociedade brasileira, Mestre Bimba tomou o cuidado de excluir o termo "Capoeira" do nome da academia. A partir daí, a Capoeira sairia das ruas e passaria a ser praticada nas academias.
Nas palavras do próprio mestre, pode-se perceber a imagem desta perante a sociedade, nos tempos em que era proibida:
"Naquele tempo, a Capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandro. Eu era estivador, mas fui um pouco de tudo. A polícia perceguia um capoeirista como se percegue um cão danado. Imagine só que um dos castigos que davam a capoeiristas que fossem presos brigando era amarrar um punho num rabo de cavalo e o outro em cavalo paralelo; os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o quartel. Comentavam até, por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel, pois houve muitos casos de morte. O indivíduo não aguentava ser arrastado em disparada pelo chão, e morria antes de chegar ao seu destino: o quartelde polícia".
Objetivando acabar com a reputação de briga de rua praticada por malandros e desocupados, que tinha a Capoeira aquela época, Mestre Bimba criou novos padrões associados a esta arte. Seus alunos, a partir de então, seriam obrigados a usar uniforme branco e limpo, ter boas notas na escola, apresentar-se com postura decente, etc... Como resultado, médicos, advogados, políticos, entre outras pessoas das classes mais abastadas, bem como as mulheres, que até então eram excluídas das rodas, começaram a frequentar a academia, garantindo a Bimba um maior apoio.
Em 1942, Mestre Bimba abriu sua segunda escola, no Terreiro de Jesus - Rua das Laranjeiras, atual Rua Francisco Muniz Barreto. Deu aulas de Capoeira também no Exército e na Academia da Polícia Militar.
Em dezembro de 1948, Mestre Bimba, acompanhado de alguns de seus alunos de maior destaque, já formados e mestres da arte, foi a Sãõ Paulo com o intuito de ali divulgar o que ficaria posteriormente conhecido como a luta genuinamente brasileira. Os "meninos de Bimba" fizeram duas apresentações, em fevereiro e duas em março de 1949, realizando encontros de "vale-tudo" com os melhores lutadores paulistas da modalidade. Seguiram, então, para o Rio de Janeiro, enfrentando lutadores locais. Todas as apresentações, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, tiveram um sucesso estrondoso.
Em 1953, Mestre Bimba e seus alunos realizaram uma exibição no Palácio do Governo, em Salvador, a convite do então governo da Bahia, Juracy Magalhães, tendo também por espectador o Presidente da República à época, Getúlio Vargas. A partir desta apresentação, que se tornaria famosa, a Capoeira passou a ser menos discriminada e mais valorizada, tendo maior acesso à divulgação, com exibições em clubes, escolas e teatros, e também tendo apoio dos políticos, dos intelectuais, artistas e do povo em geral. Entretanto, o capoeirista, individualmente, continuou sofrendo preconceitos, até meados da década de 1960.




Em 1973, descontente com algumas falsas promessas e com a falta de suporte por parte das autoridades baianas, mudou-se para Goiânia, capital de Goiás, a convite de um ex-aluno seu. Veio a falecer um ano depois, em 15 de fevereiro de 1974, no Hospital das Clínicas de Goiânia, devido a um derrame.

Mestre Bimba consegui recuperar os valores originais da Capoeira, utilizados entre negros séculos antes. Para ele, na Capoeira, a competição deve ser permanentemente evitada, por ser esta uma "luta de cooperação", na qual o jogador mais forte é sempre responsável pelo mais fraco, ajudando-o a incrementar suas técnicas de combate. O mestre lutou a vida toda por suas convicções, com sucesso. Após sua morte, um de seus filhos, Mestre Nenel (Manuel Nascimento Machado), assumiu sua academia, sendo, atualmente, responsável pelo notável legado cultural e histórico deixado por seu pai, e presidente do grupo de Capoeira "Filhos de Bimba".
Durante sua vida, Bimba trabalhou como carvoreiro, carpinteiro, estivador, tratador de cavalos, mas nunca deixou de praticar a Capoeira, sua ocupação principal. É considerado "o pai da Capoeira Moderna".

Esse artigo foi retirado da Coleção Artes Marciais, módulo Capoeira.

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